Sunday, July 12, 2015

 Amigues, 

(Segue uma pequena reflexão que tive com a Cla e o Tomás após apresentação de Panidrom na PUC)

  Apreciei muito e achei esclarecedor o apontamento da Clarice.

" - Acho que são nove criaturas e um performer. "

 Dormi sobre o assunto. Ora, a realidade não é um dado natural ou um efeito do passado. Ela é teatral; fabricada. É o que o Tristão me fez ver na última apresentação enquanto conduzíamos o público por ruas estreitas e cheias de câmeras. É o que compreendo como “sociedade do espetáculo”. Diante desse acontecimento, a criatura que não quer ser capturada “Tristão” tenta ir na contramão dessa realidade, ele a rejeita, a quer desmascarar. Enquanto contempla a parede parece descobrir seu verdadeiro nome:

  - Ninguém.

 Entende- se seu ceticismo? Impossível apreender o real como totalidade, pois não há verdade na realidade, ela é uma fabricação histórica de vontades de poder. E por que as placas? Por que essa obsessão por escrever a própria história acaba em ruína? Talvez porque ao nos depararmos com uma ruína a primeira coisa que fazemos é construir para ela uma história. E quem conta essa história?  
O contar e o representar me parecem motes interessantes para pensar o “performar” que a Clarice aponta, uma vez que: os enunciados constituintes da realidade do espetáculo são estratégias de dominação.

  “A memória é uma ilha de edição”. 

Essa dificuldade do Tristão em assumir seu papel de dentro da cena, talvez venha da necessidade um de seus autores que já não quer encenar ou contar mais nada, porque compreende que aquilo que se consegue representar ou contar na realidade encenada também é estratégico e editado. O autor em questão esteve nas ruas em junho e sentiu no corpo o papel do estado midiático. Sua “tradução das massas” em jogos de linguagem, que sedentos de poder pela unidade, se mostraram incapazes de lidar com a multidão*, transformando indivíduos em personagens e acontecimentos em [espetáculo].




*Multiplicidade

Saturday, April 4, 2015

marenka mirka zdenka krasava in progress




percurso
É muito estranho pensar no processo de crescimento e construção da Marenka; o início, percurso e fim. É impossível pensar o início exato de tudo, porque acho que sempre tive a vibração dessa criatura, na maioria das vezes esmagada e encoberta, mas sempre ali, presente. Em Panidrom, ela achou o espaço tempo exato para escancarar as portas e janelas e expor um lado meu que negava e que, de certa forma, ainda nego.
Marenka não surgiu de repente, não foi entregue nas minhas mãos e nem a compreendi de um dia para o outro. É como se eu tivesse aos poucos encaixado uma peça na outra, pisando leve e receosa nesse percurso desconhecido de autoconhecimento na criação cênica. Até hoje ela é um mistério em vários aspectos e ainda é difícil assumir essa energia agressiva em toda apresentação, mas o mais interessante e desafiante é aprofundar as diversas camadas e contradições dessa criatura.
Se nos limitarmos em uma visão superficial e reducionista, Marenka será só uma mendiga grossa, arrogante e irônica, sem muito a acrescentar. Mas aprofundando nas referências, os motes para criação, as experiências vividas em processo e a vibração que ela carrega das ruas, as facetas dessa mendiga se tornam infinitas.



amuleto
No início, no primeiro ensaio de Panidrom, o João conduziu uma experiência cênica em que, observando uma fotografia na improvisação, surgiu a história do amuleto, o pequeno pato que um senhor carregava na imagem. O amuleto se chamava Carinho. Considerando que nômades não possuem espaços/objetos fixos, o amuleto se torna seu objeto de carinho, aquilo que você carrega pra onde você for. No caso da Marenka, seu amuleto começou com um pato, que virou um olho desenhado na mão, que virou uma mancha espalhada pela mão. Nas ruas e espaços públicos, ela se defende e acredita nesse pedaço de mancha como sua proteção. Apenas um detalhe, já que seu corpo inteiro já é um escudo. Sua própria fala já é um escudo. Como mulher, pobre, mendiga se não fosse toda escudo, provavelmente já não existiria.




Palhaço Paralama e Mulher Borboleta
“O circo é uma família com sobrenomes diferentes,
mas comportamentos iguais. As pessoas se ajudavam,
ninguém passava fome. Existia solidariedade, amizade.”
Nitinha Durso, minha tia

 Os personagens envolvidos nessa empreitada artística parecem retirados de um roteiro de filme, ou mesmo de uma história épica-romântica-fantástica: meu avô, Carmindo Durso (1910- 1982) e minha avó, Alice Rodrigues Ferro Durso (1914- 1993).
Alice morava na casa de seus pais, em São João do Matipó- MG. Era filha de João Ferro, um dos maiores fazendeiros da região. João Ferro era tão rico, mas tão rico que o gerente do banco reclamava dizendo que não havia mais espaço para guardar o dinheiro dele no cofre do banco. O que João Ferro tinha de dinheiro, tinha de rigidez. Ele era muito enérgico e cismava que os filhos tinham que trabalhar. Um dia, mandou Alice tirar leite de uma vaca chamada “Perigo” e o resultado foi que a vaca pisou em cima dela toda e a deixou em carne viva. Ela teve que ser deitada em folha de bananeira com óleo. Por essas e outras que talvez, para Alice, não tenha sido tão difícil abrir mão de sua casa e sua família.
Foi em 1933, quando tinha 18 anos, que chegou o circo na cidade e, junto dele, o Palhaço Paralama, vulgo Carmindo Durso. Alice e Carmindo se apaixonaram fervorosamente, e quando o circo ia zarpar para outro destino, trataram de dar as mãos e seguirem juntos com o circo. Alice largou tudo e aprendeu a ser artista de circo, mais especificamente, trapezista, se tornando a Mulher Borboleta.
    Passaram por poucas e boas. Tiveram uma linda filha, chamada Nitinha, que também tratou de se tornar artista de circo, a "Shirley Temple Brasileira". Nitinha se lembra de um dia de grande aperto quando, certa vez, chovia incessantemente por 20 dias e o circo não conseguia estrear. Estavam sem dinheiro nenhum, então, Alice decidiu abrir o cofre de Nitinha e dividir com todos do integrantes do circo. Neste dia, Nitinha chorou incessantemente.
O palhaço Paralama se vestia como um palhaço tradicional de circo: um aro de papelão listrado como gola, gravata borboleta, suspensório e chapéu de cetim. Sua roupa era branca e vermelha. Tinha uma cadela de pano, chamada “Mijoleta”. Seu sucesso era pegar a cadela e jogar em cima dos outros, falando “Mijoleta, pula!”, só que ela era presa com um elástico, e sempre parecia que ela ia cair em cima do público, mas ela sempre voltava para a mão firme do Paralama. Para castigar sua cadelinha, batia com ela no chão, dizendo “Uiuiui, segura ela!”. A cadela nunca batia em ninguém, ele tinha a percepção de espaço muito aguçada. Tão aguçada que depois que saiu do circo foi pintor e letrista, e nunca mediu nenhuma parede para escrever algo. Sempre acertava a medida das palavras no muro.
 Alice, a trapezista Mulher Borboleta, colocava 7 quimonos japoneses e ia tirando eles durante seu número do trapézio. Ao final, estava de roupa de borboleta, lá no alto. Um dia, a Mulher Borboleta caiu de 15 metros de altura e o osso chegou a sair do braço.
     Viajaram muito, por quase o Brasil inteiro, de trem ou caminhão, pois as vezes ficava mais barato ir de trem. Quem montava o circo era chamado de “marra cachorro”. Quem trabalhava no circo trabalhava até tarde e dormiam durante o dia, deixando as crianças soltas e livres, por isso quase sempre precisavam de babás e cuidadoras. Tody, um pastor alemão do circo, de vez em quando, enquanto os pais dormiam, fazia o papel de babá de Nitinha.
  Alice cansou de ser borboleta, sentiu saudade de sua família e de firmar os pés na terra. Vida de circense não era mole. Decidiram sair do circo e ir para Carneirinhos, cidade onde estavam os pais de Alice. O palhaço Paralama sempre sentiu saudade do circo e do público que o recebia com carinho. A nostalgia da vida cigana-circense, livre desse sedentarismo urbano, seduz a família até hoje, até mim.



saudade, memória
Criamos muitas composições - pequenas produções cênicas direcionadas- durante o processo e, relembrando, já nem sei mais onde e com quem surgiram alguns materiais. Alguns assuntos se tornaram recorrentes e sempre voltavam em uma composição ou outra. As vezes escolhia trazer um material novamente para a composição, mas muitas vezes ele aparecia sem que nem tivesse percebido. Isso aconteceu com os materiais sobre a saudade e a memória. Desde que pesquisei sobre as raízes artísticas circenses da minha família para a peça, fui embalada em uma mistura de nostalgia e melancolia, esperança e saudade.
Desde que Carmindo e Alice viraram material de composição, comecei a sentir falta das pessoas: pessoas da minha família, pessoas que não havia conhecido, pessoas que morreram, pessoas que foram abandonadas por alguém, pelo Estado, pessoas que picharam as paredes, grafitaram os muros. A memória é uma ilha de edição. Posso abandonar algo, mas também posso fortalecer algo: reviver algo que já estava morto. Marenka tem um pouco dessa força, aponta as frases do muro, grita saudade, expõe o ridículo dos outros, expõe as falhas, deixa o fogo queimar.




de onde veio Marenka
JUNHO DE 2013
As inundações na Europa central ameaçaram várias cidades da Alemanha, República Tcheca e Áustria, ao longo dos rios Elba e Danúbio. Nas áreas de risco, os moradores se revezavam dia e noite para encher sacos de areia para reforçar os diques. As autoridades de Praga, com a ajuda de soldados do Exército tcheco, levantavam barreiras de sacos de areia contra as águas.
Marenka ainda se encontra correndo por aí, carregando seus sacos de areia. de mentira.




na praça saens peña
COMO SE EXPOR?
COMO SE TORNAR INVISÍVEL?
COMO PESA UMA MEMÓRIA?
QUEM SE VAI, VAI PARA ONDE?

Essas foram as perguntas direcionadas para a minha pesquisa de campo no espaço que escolhi no Rio de Janeiro: a praça Saens Peña. Escolhi esse espaço, pois foi o primeiro bairro que morei e onde mais me senti "acolhida" quando me mudei da cidade pequena para o Rio cidade (des)maravilha. No meio do caos e insegurança, era lá que sentava e apenas observava as horas e pessoas passarem.
Retornei a mesma praça com outro olhar. Aparentemente familiar, nas periferias da praça se encontram moradores de rua. Nem sempre nas periferias, eles escolhem os dias de sol para tomar banho na água do lago sujo da praça. Ao olhar a praça, foram esses que me saltaram aos olhos e esses que formaram muito do que a Marenka é. Ironicamente, meu cartão de metrô estava vazio e estava sem dinheiro para voltar. Virei mais uma pedinte naquela praça.



rio de janeiro, praça saens peña.
dá licença, criança. deus te abençoe com esse panfleto do Crivella. não tenho dinheiro suficiente. o que se compra com 50 centavos? o que está invisível? ME AJUDE. porque a preocupação é com o olhar do outro.  sentei na praça. o que é mais difícil? me expor. por quê? porque dependo da aprovação dos outros. por quê? porque eu tenho medo. um senhor se levanta, abre as calças e o cinto e levanta a cueca, depois as calças e o cinto. encurvado, ele apalpa os bolsos em uma lentidão inacreditável. óculos caído no nariz e língua para fora. observa tudo, em tempo lento. abraça o joelho com as mãos. pede um picolé. volta e meia lava as mãos no lago. não tinha me dado conta de como esse lago é sujo. sujo. sujo. sujo. como os peixes sobrevivem aqui? licença. claro. daqui a pouco eu tenho que voltar. tchau. em volta do círculo de xadrez coberto, camas e camas de papelão. uma grande área de descanso e moradia. precisei pedir 3 vezes. ganhei 4 reais em 5 minutos. quantas vezes um mendigo precisa pedir? eu, fofa, meio branca, sei lá. traços finos. muito fácil se sentir sozinha. a não ser pelo olhar de um bebê que vê. olha fundo. a não ser pelo olhar do mendigo que vê e olha fundo. do outro lado da rua, por entre carros e barulhos, ele está lá. sorrindo sem dentes, balançando a mão com intensidade, como se já me amasse por anos.




a gravidez
Assim como a saudade e memória, a gravidez também foi um assunto recorrente no processo. Todos nós de alguma forma engravidamos. Todos nós acreditamos e esperamos alguma coisa do processo e do mundo. Volta e meia alguém aparecia com barriga em composição. Volta e meia era mentira. Mas, no final, ficou a Marenka grávida, de verdade. Foi preciso ser concreto e somente no final do processo entendi o porquê.
Em uma reunião de equipe, decidimos abrir cartas de tarô para todos. A carta de tarô que saiu para Marenka foi A Estrela e veio desmistificar grande parte do que acreditava dessa mendiga pessimista e grosseira. A estrela é a esperança de uma nova era, coletiva e alegre. Me dei conta que é o parto urgente de Marenka que conclui tudo o que já estava encaminhado. Panidrom não é o lugar. Panidrom não é terra fértil para nascer filho. Nenhum lugar onde não seja possível viver em condições dignas e justas é o lugar. Continuar a caminhar. Não é o fim da peça, é o começo. A estrela, hasteada lá no topo, vibrante, é a prova concreta de esperança, de uma utopia possível. Marenka é grávida de um estrela.

Friday, December 12, 2014

Peixe em Panidrom

Durante a caravana psra Panidrom, que durou meses eu e minha grande parceira Marenka, conhecemos as duas crianças pentelhas e o professorzinho mala. Perez é filho de um político aí que tava removendo a gente pra algum lugar muito bacana chamado Panidrom. Falou que ia inundar tudo mas que Panidrom era um lugar foda, cheio de mulher pelada e cachoeira. Eu fui, claro, nâo ia precisar mais fazer porra nenhum e tal. Passando pelo Rio, esbarramos com o Cara chamado Cavalo, super gente fina, e o Mela-cueca, carinha todo errado das ideias.

Perez parou por lá chamou um galerão com umas mulhé gostosa e demos um dez. Aproveitei pra tirar tirar uma graninha da galeura fazendo meu numero de cartomante, mas nem deu pra fazer muira consulta porque já era hora de partir.

Caminhamos uma caralhada de tempo, dançando, bebendo, até caí na porrada com o Mela-Mela que ficou enchendo o saco da Marenka.

Foi quando chegamos aos portões de Panidrom. Supense, comoção, festa, putaria e... que porra era aquela? Não tinha merda nenhuma naquela lugar. Umas árvores de merda e o caralho a quatro, nem água nem porra nenhum. Filho da puta do Perez tentou fugir, tinham fechado o portão, tentou fugir por cima. Agarrei o desgraçado pelas calças, e tudo que eu queria era arrancar a pele do desgraçado. Mas me segurei pra não quebrar os ossinhos. Prendemos o Perez. Só queria quebrar algo pra não quebrar o muleque.

Ajudei Marenka a colocar o muleque de cabeça pra baixo, porque o safado não parava de falar e Marenka tentou organizar as ideias. O professorzinho disse que estávamos presos, mas já sabia disso, ficou embromando um monte de parada e Marenka decidiu abrir um plenária. Tipo, sei lá, a galera fala as ideias. Marenka deu um discurso foda, não me contive de emoção, adoro essa mulhé. E o professorzinho dalou qualquer coisa de massa, o filho da puta do Perez tava querendo mandar de novo, a outra lá tava querendo homem menos homem, as criança reclamando de sede até que Mela-mela trouxe uma cabeça de boi, sei lá pra quê. Mas o que ele queria dizer é que talvez tivesse mais coisa enterrada. Atè que o carinha era bacana, coitado. As crianças ficaram de ficar vigiando, as mulhé fazendo coisa de mulhé, o Cavalo disse umas coisas sábias, deu um esporro e eu fui tentar achar o que fazer também.

Tentei contruir um radio fuckin master comunicador, mas ninguém do lado de fora atendia. Foda é que eu tinha escondido umas garrafas de bebida. Mas nem falei pra ninguém, guardei pra mim porque, sabe, né?, não sabíamos quanto tempo íamos ficar ali.

Os dias foram passando, ninguém atendia aquela porra, e já de saco cheio daquele povo. Passava os dias doidão, nem aabia mais do tempo. Achei uma cazinha abandonada do outro lado de umas grades. Jurava que tinha alguém ali. A gente já tinha construido uma parede com porta e pã, mas faltava um teto ainda mais foda-se. Sei que teve um dia que a Marenka me gritou, disse uma parada engraçada, e Mela foi pra cima dela porque ela partiu pra cima da mulherzinha. Tava doido pra socar alguém meti-lhe um bicão, daí o Perez vei quebrou uma porra da uma porrada na minha cabeça, daí eu tava no meu elemento, enfiando a porrada em todo mundo, foda-se se era criança, mulhé ou Marenka. O foda é que eu tenho epilepsia, né. Me emocionei de mais e foi tiro e queda. Sei que acordei com a galera me cuspindo, sabia que era coisa da Marenka e tasquei-lhe um escarradão. Foi quando vi aquela deusa, aquela beldade dançado, naquele dia eu tava fervendo, eu tava bem louco e a vadia só me atiçando. Tudo que eu queria era dar uns carinhos nela, mas era só mais uma mulherzinha., o jeito foi dar um murro. Também fiquei morrendo de dor de cabeça e fui dormir logo, precisava de um corpinho só e deitei junro da Marenka.

Uma das criança, a loirinha, me acordou desepesperada pela madrugada porque a irmã tinha sumido. Sei là, sei que corri durante horas, e minha cabeça voltando pras ideias. Será que tinha entrado alguém? Serà que ela se matou? Porra guria, era todo mundo ficar junto. Cadê a puta? O Mela-Mela? Caralho, o que eu andei fazendo? Me dei deu uma puta tristeza, sei lá. Só queria encontrar a criança, ficar todo mundo junto. Sei lá, me desculpar com a galera. Não sei. Se fuder também. A parada era achar a criança e dar um jeito de sair dali. Até que esbarrei com uma árvore muito grande. Minha cabeça girando. Achei que vi a menina. E ela tava ali. Veio todo mundo. Mas eu não via. Mas sabia que ela tava lá. A Januária viu. Sabia, eu vi também. Minha cabeça girava o Cavalo falou de passarinho. Puta! A menina morreu? Do nada, Melanias apareceu do outro lado do portão falando que ainda tinha terra. Porra, daí que minha cabeça girou mesmo. A primeira coisa que eu queria era arrancar a cabeça dele. Pô, disseram que tudo ia virar mar! Mas calma, respira e deixa o cara falar. De fato inundaram, mas tinha uns prédios e tal. Derrubaram nossa casa e construíram um monte de bagulho. Daí foi trezentos e sessenta. Mané... quando parecia que eu tava no limite... rapá... Marenka, começa a parir. Daí, sei lá. O Cavalo chamou a puta que pedia pra Marenka manter o filho dentro e eu só queria tirar a Marenka dali. O filho da minha ùnica amiga não ia nascer nesse limbo. A gente ia embora e ia tomar tudo de volta. Ia pegar fogo e botar pra fuder.

Wednesday, October 22, 2014

De Panidrom para Panidrom

QUERIDOS,

FIZ UM APANHADÃO GERAL DE TUDO QUE CONVERSAMOS NA SEGUNDA, É SOMENTE UMA TENTATIVA, A DEFESA DE ALGUNS PONTOS QUE ENTRARAM NO DEBATE. ESTÁ ABERTO PARA SER COMPLETAMENTE DESCARTADO, MAS ME FEZ COMPREENDER ALGUMAS COISAS. BEM, AÍ VAI...


PANIDROM

As criaturas são a síntese representante de seus lugares. O público são os seus... Todos moram em uma mesma região em diferentes tempos. Se unem em um só tempo para a grande solução sobre todos os problemas das remoções de todos os tempos. São criaturas eternas, porque esses lugares que merecem remoções sempre existiram. Resolvendo a remoção de criaturas símbolos dessas energias marginais, A Remoção será enfim solucionada.
Todos estão avisados e já sabem a determinação do Estado: hoje é o dia de irem para PANIDROM. Pouco entendem sobre o lugar, ouviram histórias, tem memórias de outros que lá estiveram. Sabem que a água irá tomar suas casas. Um dia antes da data marcada, surgem rumores de uma catástrofe recente, algo sobre um índio afogado. O Estado já teria avisado: “Vocês não têm muito tempo.” Em algumas semanas foi tudo preparado, a solução havia surgido: PANIDROM.
O Representante do Estado preparou com máximo precisão os mínimos detalhes. A Remoção histórica para PANIDROM. Todos os livros lembrariam que ele havia sido o homem de frente na remoção que criou PANIDROM. Acredita ter sido escolhido por Ordens Superiores para lá comandar aqueles povos, submetê-los para a criação dessa nova sociedade modelo. Contava com apoio músico-militar de indução sob criaturas e que teria estruturas mínimas de comando sobre esses.
O sinal toca, os povos vão chegando, as criaturas como representantes. O cortejo magnânimo para PANIDROM é alcançado pouco a pouco. Perez Perez comandando a carreata.
Em seu discurso de convencimento busca usar de argumentos compreensivos e empolgantes. Falsamente entende o grande medo daquelas criaturas: de que suas vidas fossem tomadas pela água. 

Em sua fala, afasta com ‘clareza’ qualquer temor a inundações:

PEREZ PEREZ - Não há porque temer a água, meus amigos! Não há qualquer risco neste novo lugar. É maravilhoso ter a certeza de que esse lugar é seco! Verdadeiramente confiável! Cem por cento de chance de nunca ocorrer uma inundação! Seu maior medo finalmente acabará! Terão paz em PANIDROM! Tudo que sempre se sonhou! Nossos maiores sonhos... Realizados! Toda uma expectativa!

O êxodo segue pela Primeira Estrada (a rua do BB), as criaturas começam a estabelecer relações entre elas. Quando chega o momento da curva, a confusão dessas relações eclode em uma sucessão de perguntas por todo o público, eles vão e voltam desordenadamente. (‘vocês ouviram sobre o índio afogado?’, ‘Que dia é hoje?’ ‘Me empresta?’ ‘Esse livro é da Rosa!” ‘Quem trouxe criança?’) Após o caos, eles voltam com atenção ao cortejo quando na segunda curva eles avistam o portão PANIDROM completamente iluminado.

A intensidade da música aumenta. As promessas beiram milagres. Todos caminham entre euforia, tesão e êxtase pela terra seca. Estão completamente induzidos a pensarem sobre o quanto não tem mais medo da água. A mão invisível abre os portões e o mantra hipnótico da música os conduz à extrema felicidade. Todos se sentem preenchidos em lembranças.

Entram: avistam a terra seca. Ficam maravilhados por um breve instante. Percebem que o espaço é seco demais. Avistam pela primeira vez o índio passando muito ao fundo. Comentam. Zoé não tem medo, só acha estranho índio afogado andando entre os vivos. Observam o espaço, percebem suas dimensões e começam a explorá-las. Perez Perez se sente completamente chocado com o quanto foi enganado. Não acredita não falta de tudo que lhe prometeram. Tenta discretamente retornar aos portões que ainda continuam acesos, mas completamente fechados. Se dá conta disso, seu desespero é maior. A atenção voltasse para ele.

Ele começa a tentar convencer sobre as qualidades do lugar. É preso. Ordena que o soltem, pois ele seria o quem deveria ser o governador de PANIDROM. O Índio aponta para um tronco com uma fita amarela. Só Noah está vendo isso. Noah percebe que há outros troncos assim e conta no ouvido da Zoé. Zoé diz achar que o Índio quer que todos peguem os troncos com fita amarela. O Homem Chamado Cavalo diz que quem estão certas são as crianças. Todos correm e juntam os troncos perto do Índio. Eles se afastam. O Índio pega um isqueiro e um pedaço de jornal. Acende o jornal com o isqueiro e a fogueira com o jornal. Marenka grita comandando que o público e fique na roda marcada por ela no chão:

MARENKA – Plenária! Plenária!

As criaturas ficam dentro da roda do público e Marenka marca um círculo menor para eles em volta da fogueira. Perez Perez está amarrado. 

PEREZ PEREZ REVELA :

·         QUE O ÍNDIO RESISTENTE FOI AFOGADO POR ORDENS SUPERIORES. OS OUTROS ÍNDIOS FORAM REMOVIDOS PARA OS CONTEINERS. OS DAQUI E OS DE JACAREPAGUÁ. FOI A SOLUÇÃO DO ESTADO. OS CONTEINERS SÃO DOS ÍNDIOS SOMENTE. ORDENS SUPERIORES.
·         DESISTAM DE SAIR! NÃO PODEM SAIR PORQUE ESTÁ TUDO ALAGADO! PORQUE NÃO VOLTARIAM PARA SEUS TEMPOS DE ORIGEM. ESTÃO NO AQUI E NO AGORA, E O AQUI E AGORA É PANIDROM.
·         OS ÍNDIOS ENTRAM E SAEM DE PANIDROM, MAS ALGO NOS IMPEDE. NEM PEREZ PEREZ PODE SAIR, TAMBÉM ESTÁ PRESO.
·         NÃO PODEM CAVAR. ORDENS SUPERIORES. PRECISAM ESPERAR A CHEGADA DE SUPRIMENTOS QUE SERÃO ENVIADOS. E PRECISAM PRODUZIR.

Eles discutem sobre o lugar. Precisam comer. Precisam plantar. Precisam se abrigar. Tristão fala sobre a necessidade de se estabelecer um centro, definir os locais das principais construções daquela sociedade e inicia-las imediatamente. Zé do Peixe se compromete a vigiar a chegada de alimentos. Januária fica preocupada com as crianças não terem nada para comer. Noah diz que tá um pouco fraca. Marenka ordena que todos esvaziem seus bolsos e ofereçam o que tem de comida. Homem Chamado Cavalo tem cavacas. Melanias tem um pote com tanajuras. Januária tem uma panela. Tristão tem um pote com um molho esverdeado. Zé do Peixe tem uma Garrafa de água e uma de cachaça. As crianças têm fome. Eles misturam tudo na panela e levam ao fogo. Marenka tem canecas. Todos se alimentam, menos Perez Perez. Ele reclama, Marenka lhe põe de ponta a cabeça.

Todos se afastam com objetivos e começam a transitar pelo espaço durante a propaganda de Marenka e Zé do Peixe. Ao fim, eles soltam Perez Perez enquanto Melanias trabalha na terra, tentando prepara-la para o plantio. Januária está com as meninas, elas correm, ela volta pra buscar o carrinho e conversa com Melanias. Ele fica ali parado. O Indio sinaliza que o público deve segui-lo. Durante o caminho mostra-se passagem de tempo. Tristão acha pergaminhos de PANIDROM, Noah caça moscas para o jantar, Zoeh brinca de escalar as costas de Melanias, Januária lava roupas, Marenka surge com barriga grávida, Perez Perez e Puta se enamoram, Puta já mais madura.

Toda a cena dos escombros.

 Ao fim do discurso, O Homem Chamado Cavalo chama Tristão para tomar café, antes de entrar nos escombros ele estende um pano cobrindo todo o buraco. Tristão não sai mais do buraco depois que entra. Picha:

DROM – ESTRADA
PANI - ÁGUA
PANIDROM
ESTRADA DA ÁGUA

Zoé faz sua leitura e sobe na árvore. Melanias e Januária se relacionam. Melanias pula o muro. Noah avisa Januária que Zoé sumiu. Januária tenta convencer a menina a descer. Januária dá a boneca de Zoé para Noah e é levada para longe por Marenka. Gritos. Perez Perez estupra a Puta já idosa.
TRANSIÇÃO DE TEMPO: Parto falso da Marenka. Januária com barriga de grávida. Depois da cena da barriga do bicho, Noah volta para a árvore e enfia a cabeça na terra. Januária não sai do lado delas. Ao fundo da cena, puta anciã dá de mamar ao Zé do Peixe, O Índio entrega a Zé do Peixe a carta de tarot do enforcado. Zé do Peixe faz o discurso e se enforca (sim, quem se enforca é o Zé!). Marenka e Homem Chamado Cavalo dividem o último pedaço de cavaca. Perez Perez ressurge de sua loucura com as pedras portuguesas quando percebe o exato momento em que o portão se apaga por fora. A Mão Invisível abre o Portão. Melanias retorna. Diz que nada foi alagado. Todos ressurgem como no primeiro quadro. 

Música, festa, bagaceira.





Tuesday, October 21, 2014

Emendando na Puta...

No ônibus conversando com Newlands/Melanias que sabe das coisas, imaginei ações acontecendo durante o percurso dele da assembleia até as ruínas. Flashes. Como o tempo passando. Alguém armando uma tenda, uma criança aparece caçando insetos. Ordem e progresso já começa com flashes, de certa forma, com ações que indicam o as necessidades dessas figuras, suas ações de sobrevivência, não sei de fica redundante. Mas me veio essa imagem de túnel do tempo. Aquela escada. O tempo cruzando a plateia que caminha mais um pouco. Newlands falou sobre a barriga de Marenka estar muito maior na cena das ruínas. Conversamos sobre formigas (sempre presentes...). Lembrei de uma vez em que minha família fez formiga pra comer. Tanajura. Um retorno a um sabor da Paraíba, não sei se era um hábito prazeroso ou uma necessidade, ou um hábito necessário. Mas lembro que era estranho, porque não eram as formigas do forno de barro no quintal de terra batida, eram as formigas da terra na cozinha do Rio de Janeiro, no fogão de quatro bocas, no gás, no azulejo. Caçar formigas para comer. Faz bem para a vista. Será que o sabor é o mesmo? Enquanto isso se come barro para não morrer. Ralar tijolo. Espero que Melanias tenha anotado mais coisas em seu caderno, foram muitas coisas. Bom saber que Cássia também ficou fritando. 
Ontem passou uma barata da terra no ensaio. A barata que GH come. A figura desenhada pela empregada de GH. As figuras do espaço do campinho. O prédio branco. As mensagens pelas paredes. Os internos do Pinel. Algo ali ficou pela metade. Chegar e se deparar com um resquício de passado e um resquício de futuro. A terra preparada para. Um prédio provisório que está. A árvore proibida. Adão e Eva, os palhaços. Em Niterói construíram um conjunto habitacional sobre uma terra que havia desabado, para realocar as famílias que sofreram o desabamento, mas os prédios racharam e acho que foram demolidos.


Puta - jogando pro alto. | sobre elementos cênicos.

refletindo sobre o comentário da orientadora. 

Conversando com a Mordente minha rum meiti, sobre o filme da Virgini Despencer (gente n sei escrever os nomi de cabeça) o nome do filme é Foda-me em portuga. 

Tem uma cena de estupro no filme, onde 2 macho, tentam estuprar as 2. uma num misto de desespero e gozo, esperneia. a outra, a que já sabe o que é isso, a que já sabe dessa possibilidade na vida de ser mulher, da rua. encara, tira a roupa com tranquilidade e fica de 4, não emite nenhum som, nenhuma expressão, nenhuma revolta, dá o seu corpo para o macho, que fica muito puto pela não reação dela. 
A xinga, a empurra, fica puto por sua apatia, os dois cansam e vão embora meio putos. O filme se desenrola, ela começa a matar os caras. 

Referência musical: PAGU - Vou cortar sua pica. 

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E se na cena de estupro, a música desacelera, o tempo paralisa, ( após os empurrões e o que marca o inicio da tensão da festa) a puta tira a sua roupa ou deixa os abusos acontecerem, (cada peça ser arrancada) vem o peixe, vem a januaria, vem o homem chamado cavalo, puxam o cabelo também. 
puta, imóvel, em pé, de frente para o público. acaba. se veste. 

e se a puta usasse uma máscara durante toda a peça e na cena do estupro a retirasse ou o contrário. (algo que limite entre fábula, que orquestre as cenas) 

depois (não necessariamente logo depois) pega de um isopor, ou da terra, ou da onde viesse a comida, uma grande linguiça, e a preparasse, cortasse em pedaços, e depois servisse ao público com flores e felicidade. (ou não)

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Sonhei com Panidrom. 

Os holofotes, a luz ofuscante do paraíso. 

A entrada, 

mirada geral sobre o espaço. 

Panidrom estava ambientada com manequins, vários, dessas mulheres modelas brancas de olhos azuis e carecas. 

 as manequins assim nuas, provocando uma imagem macabra elas em cícurlo, penduradas nas árvores, pixadas. ( ou não) 

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sonhei com as crianças sonhando.durmindo
 música onírica. 

luz azulada, as criaturas emergem todas mascaradas,  cada uma com um balão inflavel desses de festa de criança ( bolão q tem balas dentro) cheios de água e cada criatura estourar um. 

as crianças acordam assustadas

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Pensei-sonhei muito com a questão de máscaras, como elas intensificam alguns corpos, ou apresentam outro tempo no momento em que estão vestidas, ou jogadas. 

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é isso galera, momento delírio. 

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<3 fritação